Chuvas de Primavera


A chuva caia forte, enevoada. Pintava a vista com um branco turvo. Richard estava particularmente irritado. Se aprendera algo com Candice, foi a detestar chuvas. Elas sempre atrapalhavam sua vida, trânsito, trabalho, tudo.

Suas roupas ainda estavam molhadas do pequeno percurso entre o carro e a porta da padaria. Não havia uma só pessoa no meio da rua. Nenhum cliente. Melhor seria se tivesse ficado em casa, então imaginou como estariam os nervos de sua esposa àquela altura, esbravejando contra o universo pela lama que se formava no jardim, pelos compromissos que teriam de ser cancelados, assim, lembrou o motivo de não ter ficado em casa.


- Philippe, se você entrar agora vai molhar todo o chão...
- Mas Eve... -

Evelyn e Philippe murmuravam na entrada da padaria. Estavam abrigados da chuva sobre a coberta que havia a frente do local, embora isso não fizesse muita diferença.
- Por Deus... Vocês estão ensopados - Abrindo a porta
- A agua faz isso - Brincou Evelyn .
- O que deu em vocês? ... Esperem! – Sem esperar uma resposta imediata, entrou na padaria e procurou algumas cobertas. Por fim, deu um de seus casacos para Evelyn e conseguiu algumas toalhas de mesa para aquecer Philippe – Vocês são loucos... Entrem.
- Porque você está brigando com a gente? – Philippe estava confuso. Imaginou que Richard ficaria feliz com a visita. Entretando seu tom estava notoriamente irritado.
- Eu não estou brigando! - Com um tom impaciente. Andava tenso esses últimos dias, estresses no trabalho, problemas em casa. Richard estava particularmente feliz com a visita, mas, a preocupação com a saúde de Evelyn e Philippe logo lhe envolveu. Sua mente estava trabalhando sempre na pior hipótese. Não sabia se tinha algum remédio para gripe, e se um dos dois tivesse febre, como iria levá-los a um hospital com o céu desabando como estava?! Estava tão comprenetrado em suas suposições que quase se assustou com a voz de Evelyn que lhe remedava.
- Eu não estou brigando - Brincou Evelyn forçando a voz e fazendo uma careta numa versão exagerada da face de Richard.
- Srta Evelyn, que falta de responsabilidade foi essa? Por que saíram no meio a esse temporal?
- Se nossa visita é tão inoportuna assim, podemos nos retirar... Vamos Lippe...
- Não...- Richard cruzou as as mãos na cabeça e respirou fundo... não era certo descontar suas frustrações nos outros.
- Você está fazendo aquela cara de novo... - Evelyn deu um sorriso que desarmou o Empresário. Richard esquecera até mesmo o que estava pensando no momento.
- Não, não estou – Franzindo o cenho
- Está sim... Está fazendo aquela coisa com a testa de novo...
- Eu já disse que não estou...
- Teimoso... – Empurrando a testa dele com as pontas dos dedos enquanto ria.
- Ok...- Ainda achava incrível como ela era capaz de dissuadi-lo de qualquer discussão com um simples sorriso. - Eu desisto...

Richard preparou algo quente para todo beberem e checou a temperatura de Philippe. Estava pegando bastante afeição ao garoto. Imaginava como seria se tivesse um filho, se ele seria esperto como o garoto a sua frente. Evelyn lhe aconselhava a ter paciência com Candice, se ela o amava de verdade iria perceber cedo ou tarde a importância que um filho teria para Richard, mas, o tempo estava correndo e não tinha todo tempo do mundo para dar os netos que sua mãe esperava ver.
- Você precisa relaxar... Vai morrer se continuaar assim – Soltou a garota enquanto soprava a bebida
- Por que você insiste que eu tenha calma com a Candice?
- Você não está disposto a terminar com ela, Richard. – Caminhando em direção a varanda - Sejamos sinceros. Quer queira, quer não, ela é uma pessoa que tem importância na sua vida, por pior que esteja o relacionamento, você teme tomar uma decisão precipitada. Talvez você a ame mais do que pensa. É preciso ter certeza de seus sentimentos antes de prosseguir com esses planos.
- Então você acha que eu devo tentar mais?!
- McGold... Hoje em dia as pessoas estão cada dia mais acostumadas a trocar todo que quebra ou racha, ninguém tenta consertar, não se luta mais por nada. Ao mesmo tempo em que as pessoas se acomodam em suas infelicidades por medo de fechar um ciclo e começar outro. São os dois lados da mesma moeda: “O amar e não conquistar, e não lutar pelo amor” e o “Não amar e ter medo ou estar acomodado demais para ser honesto com o companheiro, terminar tudo e se dar uma nova chance”. Você não tem que se encaixar em um ou em outro agora. Se os defeitos não insignificantes diante das qualidades, do companheirismo, da intimidade... Se o seu coração acelera ao ouvir a voz da pessoa, se o sorriso, o brilho no olhar, marcam a sua memória e você lembra dela quando sente um perfume, quando vê algo numa loja, uma comida que ela gosta, então lute! Não deixe seu relacionamento morrer pelos problemas do dia a dia. Inove, surpreenda. Não espere uma salvação, seja a salvação. É a sua felicidade que está em conta.
- E se não for assim?! – Soltou sem olhar para Evelyn. Sentia os respingos de água e o vento frio tocando seu rosto. Fechou os olhos.
- A pergunta é... Ter isso é realmente importante para você?
- Eu... ainda não sei...
- Então não há nada a se fazer sobre o assunto por enquanto. Espere seu coração e sua mente lhe darem uma resposta primeiro.
- E enquanto eles não respondem, o que eu faço?
Richard sentiu respingos de água mais forte no rosto, abriu os olhos assustado. Evelyn estava na chuva. Sorria com uma felicidade contagiante.
- Vem...?! - Estendendo a mão
Richard sentiu o ar faltar os pulmões e pegou na mão da garota e deixou que ela o guiasse. Philippe e os cachorros se uniram aos dois na brincadeira. Richard ria, jogava Phillippe para cima, era atacado pelos cachorros, jogava água, lama, areia nos dois. Distraído em seu particular momento de felicidade, não notou o carro que lentamente contornava o quarteirão.
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- Candice, quem são aquelas pessoas brincando com meu filho?
- Aquelas são as pessoas de quem lhe falei. Por favor... Converse com ele...Preciso do seu apoio para afasta-lo dessas más companhias...- Soltou Candice enquanto se aproximava com o carro
- Faz muito tempo que não vejo meu filho tão feliz assim...

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