Cap Solto: Pequenos Dragões

Meados de 01 de Fevereiro.
 Estação: Entre o Solstício de inverno
 e o equinócio de Primavera 
Evelyn, sete anos. Gawaine oito.

- Veja meu filho, as vacas e cabras já começaram a produzir leite... O inverno acabou, é chegada a primavera. Corra, vá contar a seu pai, logo teremos uma festa à Brigith. Precisamos homenagear a “Noiva do Sol”. 



Baldes e vasilhames com leite quente e hidromel eram passados de uma mesa para outra. No pátio do castelo, uma grande fogueira dançava ardente espalhando o cheiro de carne e de gordura queimada pelo ar. O ar gélido do inverno, que ainda não havia abandonado por completo os campos, umedecia as roupas e molhava a pele. Homens e mulheres estavam sentados em volta da fogueira, rindo, cantando, abandonando a melancolia dos meses de gelo e se agarrando na esperança de uma primavera. Ao lado do estandarte do dragão, havia um grande Triskle em ferro, ornado com ouro e pedras preciosas afixado na pesada porta como uma oferenda à deusa Brigidh, a “noiva do sol”, senhora do fogo e dos ferreiros, ourives e artesãos. 

Argor olhava com a face orgulhosa em ver todos os seus filhos vivos presentes na comemoração. Usava isso para abafar a perda de Garret, a pobre criança que nascera no inicio do inverno e não resistiu ao rigor da estação. Entretanto, era Ethel quem mais sofria ainda sentindo nos seios o leite que pertencia a seu pequenino. Ainda era capaz de sentir o calor de seu corpinho em seus braços, e mesmo com todos os concelhos recebidos, e mesmo já tendo passado por isso algumas vezes, não era fácil superar a perda de um filho. Respirou fundo e deu uma olhada em seus filhos. Três de seus filhos já eram homens feitos, sua primeira menina já esperava uma criança sem eu vente e a segunda casaria na primavera e logo os três mais novos estariam adultos.

Ilien cantava alegre com alguns outros bardos, dançava, convidava senhoras a acompanhá-lo na dança, convidava senhores a entrarem na roda. Turbulento como o espírito juvenil da primavera, ele balançava as estáticas arvores cobertas de neve, revirava a relva, alterava tudo o que estava monótono e calmo do inverno. 

Caeli exibia a Arthur a barriga que saltava no contorno do vestido enquanto seu marido a interrompia vez ou outra para falar da dificuldade das caçadas no inverno. Arthur tentava dar atenção a ambos, embora sua irmã lhe fosse mais vivaz no modo de lhe chamar a atenção. Brawen e Fergus lambuzavam-se com os pedaços gordurosos depois de um racionado inverno. Gwenny repreendia vez ou outra sua irmã mais nova, por seguir o exemplo dos irmão e acabar banhando-se na gordura, Briana tentava manter a compostura mas logo se rendia ao incentivo que Brawen e Fergus lhe dava. Brayan, o bastardo, procurava se manter mais afastado por respeito a Ethel enquanto Gawaine lhe fazia companhia e assistia com olhos faiscantes seu meio-irmão adicionar com a habilidade de um mestre, alguns detalhes ao seu recém-ganhado alaúde.

 ~><~

Era a primeira vez que Evelyn visitava o castelo dos “Dragões” como era chamado. A construção de pedra firme. O estandarte vermelho com o imponente dragão em dourado dava boas vindas e fazia qualquer visitante repensar em suas intenções ao entrar na fortaleza.
- Nós como sacerdotisas temos que orientar as pessoas. Fazê-las entender que o espírito do Imbolc é renovar os sentimento, fechar um ciclo e começar outro. Tudo o que você não quer mais, toda a sujeira da sua alma você deixa no inverno. Lava a casa, limpa os móveis e dizer olá ao cheiro de flores da primavera, entendeu?! 
- Sim! - Respondeu a pequena menina em estado de euforia. Alguns passos depois Meredith notou uma certa confusão no rosto da criança. 
- Fale, Evelyn... 
- Se nós vamos ajudá-los a arrumar a casa, porque vestimos nossas roupas de cerimônia?- A sacerdotisa não conteve o sorriso, a menina temeu não ser compreendida e sua aflição aumentou. - Mas, é sério... Olha o tamanho disso tudo... Quando terminarmos de ajudá-los a limpar estaremos sujinhas, sujinhas. 

~><~ 

- Veja... - Sussurrou Meredith apenas alto o suficiente para que Evelyn escutasse. - Aquele é o rei, seu nome é Argor. 
- O senhor da Guerra! - Soltou a menina familiarizada 
- Foco, Evelin... Não se disperse... Aqui ele é o rei. - Meredith explicou e apresentou cada uma das pessoas mais importantes, e cada uma das pessoas que ela conhecia começando pelo rei e seus filhos. 

Argor tinha os olhos de um verde escuro, confiante. Seu porte era o de um guerreiro e seu corpo não transparecia a idade que seu rosto tentava alardear. Os cabelos eram lisos da cor dos campos de trigo. Possuía uma barba rala alourada e uma pele avermelhada pelo sol do combate. A seu lado estava Ethel, esguia e elegante, seus cabelos eram cor de madeira escura, cacheados em espirais perfeitamente penteadas. Seus olhos eram como o mais belo Mogno. Sua pele era clara como o leite e seu rosto era iluminado como a lua que começa a descer no horizonte. 

O primogênito era Arthur, que carregava muitas das características do pai, exceto pelos olhos carregados e castanhos da mãe. Entretendo possuía um olhar doce, numa cortesia medida para não se exceder e passar por inconveniente. Tinha os cabelos escorridos cor de trigo do pai e a pele marcada pelo sol. 

O segundo era Ilien, sem dúvidas, a estrela da noite. De cabelos de um castanho escuro e um olhar de esmeralda, possuía o porte esguio da mãe e o sorriso sagaz de Argor, assim como seus olhos sempre vigilantes, ao contrário de toda a família, Ilien era um bardo, não apenas um bardo, mas um dos melhores menestréis conhecido pelos quatro cantos dos reinos. 

Após Ilien, nascera Caeli, a primeira mulher da linhagem. Seus cabelos eram da cor do mel das colméias. Seus olhos dançavam entre um verde e um castanho divertido. Seu corpo era esguio como o da mãe, de pele alva e dedos finos. Seu vestido contornava uma gravidez que deveria estar na sua segunda estação. Era era iluminada como a lua cheia, entretanto, seu olhar carregava o uma paciência e a sabedoria da anciã.

Em seguida, Brawen, robusto e forte como um tronco antigo, seu cabelo assim como os de Caeli, da cor do mel das colmeias e seu rosto era salpicado com pequenos sinais um pouco mais escuros que a pele, de sorriso fácil e largo. Seus olhos eram como os de seu avô, azuis como o céu do meio dia. Tinha, apesar da euforia, o olhar insensível dos guerreiros que já carregam tantas mortes nas costas, que pararam de se importar com seu peso. 

Gwenny, era bela como uma pintura, seus cabelos eram como fios do mais brilhante ouro, encaracolados numa harmonia encantadora. Seus olhos eram de um castanho claro. Um olhar impaciente e altivo, entretanto, mascarado com a cortesia e os gestos medidos dos nobres. Seu vestido marcava curvas graciosas de um corpo esbelto como se fosse desenhada a mão. Em seus modos, se assemelhava bastante à mãe. 

Briana tilha os olhos de um castanho desatento, perdido em seus próprios pensamentos, não possuía muito pulso em sua convicções. Era comumente repreendida por Gwenny por sua desatenção, seus modos e sua postura. Entretanto, era doce, como o desabrochar de uma rosa na primavera, e atenciosa com todos os que lhe requisitavam sua atenção. Por sua inocência, várias vezes era alvo das brincadeiras de Brawen e Fergus que a induziam a portar-se de modo a deixar Gwenny furiosa. Possuía as mesmas sardas que Brawen sobre a pele rosada e os mesmos cabelos lisos e cor de trigo que Argor. 

Fergus era um dos mais novos, o discípulo de Brawen, como era conhecido. De olhos castanhos ativos salpicado com um verde curioso. Seus cabelos eram cor de areia molhada, já mostrava no corpo a musculatura jovem de seus treinamentos como guerreiro. Seu sorriso era discreto e suas atenções estavam voltada a imitar as manias e os trejeitos de seu “mentor”. 

Então Meredith apontou ao caçula da família, o garoto tinha cerca de oito anos. Seu cabelo era como ouro iluminado pelo sol, os olhos de um meigo acinzentado que dançava entre um azul e o verde. Carregava no olhar a altivez de Ethel, o porte de Arthur e o sorriso debochado de Ilien. Seus olhos tinham o brilho da inocência, o brilho da infância aquele brilho particular reservado somente às crianças. O mesmo brilho que irradiava os olhos de Evelyn. 

~><~ 

- Ora, ora... Que honra a nossa receber em nossa comemoração a figura da grande deusa em pessoa... 
- Ora, ora, senhor Ilien, acaso todas as mulheres não o são?
- Adoro as sacerdotisas, sempre com uma resposta pronta. Uma companhia inteligente para um homem tão cercado de ignorância.

Ilien era de todo floreios, cada palavra era acompanhada de uma cena teatral. Evelyn deu alguns risinhos que acabou chamando a atenção do músico. 
- Mas o que meus olhos vêem. Uma pequena labareda fugiu das fogueiras.
- Eu não sou uma labareda... - Rindo graciosamente se divertindo com a atenção 
- Então você é uma folha de outono... está meio perdida de estação folhinha...
- Eu não sou uma folha... 
- Entendo... Como pude não perceber...- Apertando o nariz da menina e em seguida as orelhas. - Sois uma raposa! 
- Não! … - rindo - Eu sou uma sacerdotisa!
- Ora , ora, quem diria... Minha próxima aposta era de que eras uma menina. Mas vejo que erraria novamente.
- Eu também sou uma menina
- Como pode? Não eras sacerdotisa? Como posso ser um gato e um cachorro ao mesmo tempo? 

A menina parou um pouco procurando uma resposta, procurou algum parâmetro no reino animal, mas não encontrava bons exemplos. Meredith se pôs a interferir, mas Ilien lhe fez um sinal para que aguardasse. Então o rosto da menina se iluminou com euforia. 
- Assim como o senhor é um homem, um nobre e um musico... Ao mesmo tempo! 
- Como eu disse...- Soltou o músico satisfeito – Sempre com uma resposta Inteligente... 

 ~><~ 

Aquela festa seguia como todas as outras e eu estava afastado da mutidão, o filho mais novo do rei nunca foi o preferido para que os outros nobres fizessem as honras, mas nesta festa eu não estava triste, a festa não tinha importância para mim.

Evelyn estava sentada a meu lado numa banqueta alta, balançava as pernas à musica dos bardos. Eu lhe mostrava algumas melodias simples aprendidas em meu novo alaúde, um presente que Ilien me dera. Improvisava algumas canções e Evelyn se incumbia de acrescentar a rimas que, emboras as palavras tivessem boa sonoridade em nada faziam sentido com as frases que eu criava. No começo eu ainda tentava encontrar alguma conexão entre as palavra, mas depois percebi que ela simplesmente dizia a primeira palavra que lhe vinha a mente e que atendesse à rima. Eu ria e me divertia como poucas vezes conseguia.

Ela escutava tudo o que eu falava com uma atenção cativante. Se surpreendia, tecia comentários, eu me sentia vaidoso explicando os detalhes da corte e todo o meus extenso conhecimento de um garoto de oito anos. Alguns tempo depois, Meredith a chamou para junto de si. Meredith era a sacerdotisa que sempre realizava os sabás com nossa família. Para mim, ela era a expressão da própria deusa e sempre que me falavam na grande mãe ou em qualquer uma das deusas da lua eu as imaginava como Meredith. Com cabelos radiantes como ouro brilhando à luz sol e seus olhos cor de pedra âmbar. Sua voz, hora como uma brisa suave, ora como um trovão. Ela desfilava como uma rainha, não, ela desfilava como as deusas desfilam entre os homens .

A celebração se seguiu como se seguem todas as celebrações. Evelyn e Meredith passeavam por entre os presentes distribuindo sorrisos, gentilezas, palavras de grandeza. Muitos pediam conselhos, bençãos e agradeciam por causas alcançadas. Eu permaneci com meu alaude treinando algumas notas. De onde estava, tinha uma vista privilegiada da festa. Brawen e Fergus estavam bebendo à fogueira com alguns outros homens, Gwenny e Brianda estavam com as moças, Ilien cantava para uma moça que corava ante suas palavras, Caeli estava conversando com alguns nobres junto a seu marido. Arthur, como sempre, estava sendo bajulado por todos como se já fosse o rei.

Chegava a ser irritante toda a popularidade de meu irmão. Sempre tão integro, tão perfeito, tão admirado por todos, como se ele não cometesse erros. Arthur era o melhor guerreiro, o melhor administrador, o melhor líder. Sempre o sorriso na medida certa, nem mais em menos, sempre as palavras certas em um tom perfeitamente medido. Virtuoso, estrategista, inteligente, perfeitamente perfeito. Como uma estrela que brilha ao ponto de ofuscar completamente as outras. Era exatamente assim que eu me sentia, ofuscado. Eu nunca seria bom o suficiente comparado ao senhor perfeito. Lembro de quando perdi a minha primeira luta: “você precisa treinar mais para ser como eu irmão, Arthur nunca perdeu uma luta” meu pai disse. Você precisa cavalgar bem como seu irmão, lutar bem como seu irmão, ser sábio como seu irmão. Sufocado, foi como eu sempre me senti. Eu não queria ser como ele, queria ter meu próprio jeito, minhas próprias vitórias, derrotas, conquistas mas isso nunca seria o suficiente, porque eu deveria ser como Arthur, o senhor perfeito.

Talvez tenha sido esse o motivo de o meu peito ter se enchido de fúria quando eu o ví conversando com Evelyn naquela noite. Ele ria perfeitamente cortês como sempre, Evelyn se derretia em graça como seu natural. A conversa parecia animada, logo ele iria começar a mostrar todas as sua vangloriadas qualidades e toda a admiração que pertencia somente a mim seria destruída. Ela passaria dias contando como ele a impressionou, ela perguntaria se eu conseguia fazer as mesma coisas que ele e eu diria que não. Então eu ficaria à sombra mais uma vez.

Desci dos caixotes furioso com o alaude nas minhas costas. Passei pelos convidados como um cavalo em disparada. Senti meu braço ser segurado por alguma pessoa entre os convidados. Me voltei transtornado. Era Ilien com uma notória cara de confusão.
- Opa... opa... Onde vais com tamanha determinação. Vais salvar o rei da fogueira?
-  Eu preciso ir Ilien, me solta!
Ilien deu uma olhava em volta, seu rosto se transformou em indignação, ele não me olhou de volta, apenas me arrastou pelo saguão até uma das sacadas.

- Diga-me que esta sua revolta furiosa não é pelo que eu estou pensando...
- Ele não pode me tirar a única pessoa que me dá atenção. Ela é minha!- Tentei sair mas Ilien me segurou com uma força sobrenatural.
- Quieto! O que pensa que está fazendo garoto? - Seu olhar de repreensão me sufocou, e a raiva e o medo começaram a brigar pelo controle do meu copo - Ela não é sua! Ela é livre para gostar de quem quiser, conversar com quem quiser. O que pretende fazer? Colocá-la em uma torre onde ela só dará atenção à você? Vai chamar para uma justa todos aqueles que conversarem com ela? Você não merece. Agindo assim você não está apenas sendo pior que Arthur, mas, está sendo pior que você mesmo.

Aquelas palavras foram como uma lança atravessando minha alma
- Você não intende. Eu estou cansado de sempre ser comparado, eu nunca posso ter nada que possa dizer que eu tenho, que seja meu, que ele não possa roubar de mim... Alguém para quem eu seja especial, alguém que me veja...
- Gawaine... Se você quer a visita de uma bela borboleta, você não deve colocá-la em um vidro onde ela não conhecerá nada além dos limites que você impôs à ela. Se a raposinha souber desses planos que você tem ela vai fugir de você e nunca mais voltará e a culpa não será de Arthur, de nossos pais, minha, a culpa sera exclusivamente sua .
- O que eu faço então? - Minha raiva agora se banhava em confusão.
- Se você quer que uma borboleta lhe visite, meu caro, plante em seu jardim as flores que ela mais gosta. Assim, não importa por quantos jardins ela voe, ela sempre voltará ao seu. E virá radiante, com o cheiro de todas as flores da terra.

~><~

- Achei você! - Gritou Evelyn quase pulando sobre Gawaine. - O rapaz respondeu apenas com um sorriso. Evelyn lhe entregou uma caneca de leite quente e mel e se sentou ao lado do rapaz. - Eu pensei que nós iriamos ajudar a limpar o castelo - Soltou ela displicente enquanto se arrumava para subir na pilha de caixotes. - Eu entendi tudinho errado... Mas e você? Tá triste? Fica triste não...
- Porque você pensou que iria ajudar a limpar o castelo?
- Porque a Mery disse que no Imolc nós ajudamos as pessoas a tirarem o lixo da alma, a limparem a casa e jogar tudo o que não se quer mais fora para receber a primavera com tudo direitinho.
- Nós fizemos isso na véspera
- Não!!! Ela estava falando dos sentimentos. Nós temos que começar a primavera melhores do que terminamos o inverno. O nosso espírito...
- E como se faz isso? - Não que Gawaine estivesse realmente interessado, mas achava divertido vê-la explicando algo com euforia. 
- Bobinho, o espírito é o que a gente veste com as roupas do sentimento. Ai, sentimentos bons, são sentimentos limpos, ai quando a gente está limpo as pessoas gostam da gente, não brigam com a gente. A gente fica cheiroso. Ai tudo fica bem! Quando a gente veste nosso espírito com sentimentos ruis a gente fica cheirando mal e fica todo se coçando e pode ficar doente e um monte de outras coisas ruins.
- O que é o espírito?
- É a parte de dentro da gente...
- Como assim?
- Depois eu explico...
- Você não sabe o que é espírito
- Eu sei!
- Então me explique
- Eu... O espírito... e como... ele é... assim.... Aah! - Irritada.  Gawaine já estava rindo a essa altura. A menina ficou emburrada ao notar que ele estava apenas implicando, Gawaine começou a puxar conversa e ela que começou respondendo apenas com monossílabos foi esquecendo a birra e voltou a conversar normalmente.
- Seu irmão é engraçado, ele me chamou de fogueira,
- Fogueira?
- Por causa do cabelo
- Mas seu cabelo não é cor de fogo
- Não?!
- Não, fogo é amarelo, seu cabelo é da cor de brasa incandescente. Tem umas partes mais vermelhas que outras... Seu cabelo é esquisito...
A menina parou e começou a pegar as mechas do cabelo e compará-las com um olhar choroso.
- Meu cabelo é feio?
- Cabelo é tudo cabelo.- Se deitando nos caixotes
-  Nãaaaaaaao... Se senta!
- O que foi?
- Eu sou uma sacerdotisa eu tenho que te ajudar.
- A quê?
- Eu não sei... Mas... o que você espera para a primavera? Você precisa abandonar as roupas sujas no inverno e se transformar - Abrindo os braços expansivamente - Para a primavera.
- Por que você quer saber?
-  Arthur disse que está encomendando uma espada lindíssima, tooooda desenhada para a primavera. - Gawaine travou o semblante embora Evelyn estivesse animada demais em seu falatório para notar
- Eu não tenho nada para a primavera - Respondeu ríspido e começou a se levantar.
- Vamos fazer algo juntos!
- Vá ajudar Arthur com a espada dele.
- Mas eu não quero saber da espada do Arthur. Eu gosto de conversar com você. Eu lhe ofendi? Me desculpe... Eu não pergunto mais, eu fico caladinha escutando. - Gawaine estava parado ainda de costas para a garota - Por favor...
- Um jardim... - Respondeu com uma voz embargada e os olhos molhados que Evelyn não pôde ver. - Eu pretendo plantar um jardim na primavera...
Evelyn abriu um sorriso 
- Um jardim! Eu posso ajudar?

Gawaine assentiu meio sem jeito.
- Não acredito!- Eufórica - Nó vamos plantar flores e todas as plantas que não tem flores também, pra elas não se sentirem excluídas.
- E você adora os excluídos, não é?!
- É que... é tão triste...
- Então... Que nome vamos dar ao Jardim?
- "Vale da lua"- Teatralmente
- E onde ficam os dragões?
- Certo, certo... Vale dos dragões e da Lua.
- Que nome horrível, que falta de criatividade.
- Mas eu sou uma filha da lua e você é um filho do dragão
- Que combinação discreta, hein?!
Evelyn encerrou com seu risinho casual. Os dois seguiram a noite sem muito consenso até que dormiram, sob o estandarte onde um imponente Dragão de cor vermelha lhes observava, sob uma maestosa lua que lhes cobria com seu  manto branco de luz.

Um comentário:

  1. Passando para visitar vc e o seu blog.

    Hoje dia da terra é uma data indicada para estar aqui.

    bjs

    selma

    http://3fasesdalua.blogspot.com/

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