Análise


Doroty prendeu os cabelos em um gesto quase automático. Tomou um copo de café forte sem sentir o gosto enquanto, apressada, enfiava uma torrada na boca. Escorregou os braços pelas mangas do blaiser sem dificuldade. Tropeçou em um dos carrinhos de brinquedo de seu filho, o brinquedo alarmou uma sirene como a da polícia, enquanto piscava as luzes vermelhas da viatura. Encontrou os saltos de sua filha jogados sobre o sofá. Pegou as sandálias, foi até o quarto da garota e as jogou sobre a cama da menina. 
- Own manhê...- Enfiando a cabeça embaixo do travesseiro 
- Mais cuidado com suas coisas mocinha... 
A adolescente se remexeu empurrando as sandálias para fora da cama, se aconchegando ainda mais nos edredons. 

O trânsito até o hospital foi tranquilo. Então o de costume, paredes brancas, o cheiro de desinfetante e amônia. Pegou um café e um pedaço de bolo com um dos enfermeiros enquanto recebia o prontuário de mais um paciente. “Mais uma vítima de estupro, que novidade...” Soltou suspirando desanimada, a cidade estava cada vez mais violenta. 

Foi incontrolável o meio sorriso que surgiu quando abriu a pasta e viu a caligrafia de Bryan, o psicólogo que estava cuidado do caso até então, “NÃO LEIA SE ESTIVER COMENDO”. Doroty olhou para o pedaço de bolo e para o copo de café com uma certa ironia cômica no olhar, arqueou uma das sobrancelhas e colocou a nota de lado. Conhecia Bryan, apesar de jovem era um excelente profissional, de uma calma e bom humor que só a juventude consegue manter, possivelmente tenham lhe tirado do acompanhamento pelo simples fato de ele se tratar de um homem e certas pacientes que passam por esse tipo de trauma se tornam hostis ao sexo masculino. 

Doroty leu a ficha da paciente de uma forma rápida entre uma mordida e outra no pedaço de bolo. Várias escoriações... Traumatismos... Violência... Aparentemente nada fora do clichê. Clareza na observação dos faltos... coerência precisa... Meneou a cabeça enquanto dava um grande gole no café.

Podia ver uma folha com observações da Dra Kristin, que estava acompanhando o irmão da vítima. Diamante Trincado, foi como Kristin a nomeou. Checou algumas chapas, a coluna havia resistido bravamente e não quebrara por pouco. Lesões nos ossos, inflamações. Passou as folhas seguintes, teve que lutar para engolir o gole de café que ainda mantinha na boca ao ver as fotos tiradas da menina ainda cheia de terra. Haviam nove fotos detalhando nove ferimentos específicos, cortes irregulares mancando nomes na pele da garota, as outras fotos embrulharam seu estômago, a ânsia foi tão forte que Doroty fechou a pasta antes mesmo de ver o restante e foi a janela tomar um ar. A situação estava mais complicada do que parecia.

Recomposta, a psicóloga pegou a pasta e sua prancheta de anotações e seguiu para a sala. Preparava seu ânimo para são se influenciar pelo peso da paciente, seria uma consulta bastante desgastante.
~><~  
- Olá...? - Soltou notando a presença da garota na sala. A menina estava com a cabeça enfaixada assim como seus braços, usava uma bata simples de paciente e estava na janela correndo os dedos pelo vidro
- Olá - Soltou meio surpresa. - Bom dia. - A menina saiu da janela e aproximou-se da cadeira com um sorriso singelo no rosto. A mendida que sentava, fazia algumas caretas ainda sem tentar perder o sorriso - Desculpe, sentar ainda é algo complicado, dói músculos que eu nem sabia que tinha.
O bom humor da garota surpreendeu a médica.
- Pode ficar de pé se quiser - A menina acenou fazendo que não e afundou na cadeira. Vendo que a garota já estava acomodada, Doroty começou. - Bom, eu estou aqui para conversar com você.
- Por que o Dr Bryan não vem mais?
- Por que a pergunta?
- Eu gostava dele, queria saber se ele havia se pedido para parar de me acompanhar, ou se haviam retirado ele  - A menina falava em um tom casual.
- Você imagina algum motivo pelo qual ele teria pedido para parar de lhe acompanhar? - Doroty estava analisando o intelecto da garota, ao mesmo passo que tinha a impressão de a garota estar analisando todo local a sua volta. Era normal esse tipo de comportamento, pacientes que passam por esse tipo de trauma se tornam mais desconfiados e, até mesmo paranóicos, as vezes.
- O Dr Brayan é um bom médico, dá para notar o quão ele é inteligente. A personalidade dele é amistosa, isso gera uma certa confiança, mas ele é bastante novo. Seu emocional ainda não está bem treinado o suficiente, ele ainda não consegue manter a frieza como a senhora. Ele se revoltou com a minha situação quando deveria ter ficado imparcial; e como é bastante íntegro, imaginei que quando ele o notasse, fosse pedir para se afastar, para que suas emoções não influenciassem em seu julgamento.
- Você fala com bastante propriedade. - A menina a sua frente parecia ser uma caixinha de surpresas.
- Apenas diga para ele me visitar se puder, se não como meu médico, mas como um amigo. 
- Eu lhe direi. Bom, eu vou fazer algumas perguntas, acho que a mesma que já lhe fizeram, então não há com o que se surpreender. Posso começar?
- Sim.
- Seu nome
- Evelyn
- Nome completo
- Evelyn.- Reafirmou - Eu sou uma moradora de rua, não tenho família ou sobrenome

Doroty deu uma olhada nas anotações de Bryan. “Evelyn Gray'Wood”. Começava a cogitar que a garota tivesse se apaixonado pelo médico, talvez uma resposta pós traumática a atenção que estava recebendo, também influenciado pelo pelo sentimento de carência que esses traumas costumam gerar.
− Quem é Gray'Wood?
− Ah... - Soltou a garota extremamente casual – Quando eu ainda era um bebê, me encontraram no meio de uma floresta antiga de carvalhos. Então me chamavam de Evelyn Gray Wood, a Evelyn “dos troncos cinzentos“. Isso não é tecnicamente um sobrenome.
− Mas você considerou um sobrenome quando o Dr Bryan lhe perguntou, não!? - A ideia de que a menina estaria apaixonada pelo médico apenas se reafirmava, era natural que a garota se preocupasse em ter um sobrenome para dar ao médico.
− Não considerei um sobrenome. Perguntas diferentes, respostas diferentes. Ele não perguntou meu nome completo – tentando simular o tom mecânico da médica – Ele me perguntou como eu era chamada.
Doroty procurou não demostrar seu desconserto passando para próxima pergunta.
− Idade?
− Eu acho que dezenove
− Eu acho? - Acentuou a incerteza da resposta
− Sim, “eu acho”. Lembra que eu lhe falei que fui encontrada ainda bebê. Eu não tive uma mãe para me dizer em que dia eu nasci, nem para contar meus anos.
A voz da menina não era impaciente, nem irritada. Ela estava relaxada na poltrona, fazia apenas algumas caretas regular quando tentava mudar de posição, por fim, desistia. Seus olhos ainda estavam apertados do inchaço recente, assim como e seu rosto ainda permanecia algumas marcas que dançavam entre o amarelo e o arroxeado. Havia um curativo pesado na bochecha da menina que fez Doroty lembrar imediatamente das fotos, uma vertigem correu a medica que respirou fundo e continuou.
− Você gostaria de conversar alguma coisa comigo? Algo que eu possa fazer por você?
− Na verdade sim - Evelyn ajeitou a postura se aproximando da mesa da - Você pode me liberar para que eu visse Phillipe?
− O seu irmão?
− Sim.
− Bom, se você conversar comigo, eu posso tentar...
− Você promete?
− Eu prometo!
Evelyn se escostou na cadeira de novo enquanto olhava pra cima com uma cara desacreditada.
− Você é a quarta pessoa que me promete isso...
− Você é muito preocupada com ele, não é?
− Eu passei tudo o que passei para que ele ficasse, bem, então eu acho que isso é meio obvio, Não?! - A menina parecia inconformada - Eu não entendo, eu preciso chorar para vê-lo? Eu digo que está tudo bem, mas ninguém acredita.
− Evelyn - Doroty havia chegado finalmente na pedra chave - Enquanto você continuar negando o que aconteceu...- A menina a interrompeu
− Mas, pelos deuses, eu não estou negando nada. Pode ver nas anotações, eu descrevi tudo para o Bryan, para a Carter, descrevo pra você se quiser...

Doroty deu uma olhada discreta na prancheta, a ultima coisa que Bryan escrevera fazia referência ao estupro, porém, Doroty não quis parar naquele momento para ler.
− Você lembra de tudo o que aconteceu naquela noite?

Evelyn respirou findo, uma respiração lenta e comedida. Até mesmo respirar ainda lhe causava algumas dores, embora não precisar mais daqueles tubos enfiados em suas narinas fosse algo maravilhoso. Tentou, com alguma dificuldade, se firmar na cadeira de modo a ficar com uma melhor postura, com a postura de oratória que aprendera, aquela postura de um rei quando ele precisa falar e ser ouvido por um grande público, aquela postura que te coloca grande.
− Era uma noite de lua minguante...
− Você não precisa contar o que aconteceu – Atalhou Doroty com uma voz um pouco mais acuada que a normal. A menina, entretanto, continuou com seu tom normal, firme, quase poético, solene, sem dor ou tristeza.
− A lua era minguante, não daquelas luas quando já estão fininhas, morrendo, mas já não estava cheia. Eu e Philippe estavamos morando em uma casa abandonada, - Ela fez uma pausa e pareceu pensar um pouco procurando uma palavra que se adequasse - Semidestruída, na realidade, mas era um lugar seguro. E nenhum guarda ou mesmo, morador de rua vinha nos importunar, ou dizer que só deixaria nós dormirmos lá se eu me deitasse com eles. Enfim, isso não vem ao caso. - A essa altura, Evelyn já havia trocado o tom solene por um casual, como o de um adolescente contando alguma historia para os amigos - O Phillipe saiu, não me pergunte o motivo, heis que quando fui procurá-lo, ele estava numa praça com dois carros trancando sua passagem e cerca de onze homens. Acho que dois deles estavam armado e quando um desses foi atirar na Daiana, que era a cadela que o Lipe cuidava, Hunter atacou. Hunter é o nome do meu cachorro.

Evelyn notou uma leve confusão no rosto da médica – Espera deixa eu desenhar aqui, me dá um papel. - A médica obedeceu quase com um sorriso no rosto. Era engraçado o jeito da menina, ela parecia seu filho quando estava tentando contar alguma historinha da escola. Então a garota começou a desenhar dois retângulos e pequenas bolas distribuídas. O sorriso de Doroty se desfez, o que a garota estava tentando contar não era nem de longe uma historinha de escola − Aqui, esses dois eram os dois carro que estavam mais ou menos assim – Apontando para os retângulos – Aqui era Philippe e aqui Daiana, que era a cadela que estava mordendo esse cara aqui, que estava com uma arma na mão. Eu cheguei por aqui, ai o Hunter, meu cachorro atacou esse cara aqui que estava levantando a arma pra atirar na daiana. Entendeu?
− Sim...
− No meio da confusão tinha um rapazinho que estava segurando o Philippe, ele tinha cerca de... a minha idade eu acho, Marchal.
− Você decorou o nome dele?!
− Ele tentou enfiar um galho de arvore no meio das minhas pernas- Respondeu secamente − Mas, não vamos apressar a história. - voltando ao seu tom de casualidade. - O fato foi, eu peguei e taquei um galho que árvore que eu tinha trago nas costas do Marchal que estava segurando o Phillipe, o rapaz quase caiu no chão com a dor, Philipe se soltou e correu, seguido pela Daiana. Nisso, o Chad que era tipo um “líder”, eu lembro que ele foi o primeiro a me riscar, acho que foi aqui sobre o peito... Não, não... foi na coxa, isso. Foi bem aqui na coxa, bem grande. Bom, voltando, ele atirou no Hunter. Aí minha alma quase vai embora do corpo, o cachorro saiu bolando pra fora do círculo. Um dos caras da rodinha pegou os dois que estavam feridos e saiu em um dos carros. Aí, o digníssimo do Chad me ameaçou dizendo que ou eu ficava ou eu fugia e eles iriam brincar de caça ao rato e pegar eu e o Phillipe. Bom, se eu estou aqui eu não preciso dizer o que eu escolhi. Então, eles me chutaram, me socaram e rasgaram a minha roupa. Eu tentava reagir, mas, convenhamos eram nove homens. - Ela fez um apequena pausa como para se organizar a ordem dos acontecimentos, ou simplesmente para atestar que não estava esquecendo nenhum fato importante – Chad foi o primeiro, eu tinha levado muitos chutes na cabeça e estava meio tonta. - Evelyn gesticulava tentando para da mais ênfase à sensação de tontura - Ele enfiou sua arma em mim e ficou ameaçando atirar. “Eu sempre quis saber onde sairia a bala se eu atirasse daqui”. E ele empurrava e esfregava a arma em mim assim ó.- gesticulando - Bom, ele ficou cada vez mais violento a medida que não conseguia me fazer gritar.
− Você não gritou?
− Talvez eu arquejado diante da dor, e em alguns momentos até mesmo chorrado. Mas meu rosto já estava tão melado se sangue, suor, cuspe e outras coisas que acredito que eles não tenham nem percebido.

Evelyn falava com um certo desolamento conformado, o olhar da menina era doce, até mesmo inocente, uma voz meiga e graciosa, que Doroty, se comoveu, mas não demostrou. - Então eles começaram as apostas de quem iria me fazer gritar ou  pedir para que “pelo amor de deus” eles parassem. Implorar.
- Evelyn...
- Em algum momento, não sei se quando Brock me chutou no rosto ou se foi um chute do Marchal, mas meu maxilar deslocou. Foi, até então, uma das dores mais agoniantes e desesperadora que eu sentira. E eu mal sabia o que me aguardava - Ela soltou com um sorriso de olhar triste, lacrimoso. Então mudou o tom - O Broock parecia aquelas crianças que gostam de brincar de carimbar, sabe. A bota dele tinha um negócio de ferro. Acho que ele quebrou umas três costelas minhas. - E fez uma pausa pensativa - Quantas costelas eu quebrei?
- Eu não posso dizer...
- Ah, por favor, é sobre mim.
- Me desculpe...- Doroty estava irredutível, mas não resistiu a incistência e a cara de curiosidade da menina.
- Três do lado direito, duas do lado esquerdo, as inferiores, não chegaram a ferfurar o coração.
- Eu sabia! - Soltou triunfante.
Era notório, a menina estava usando todos os artifícios possíveis para se distrair da dor. Entretanto, em momento algum negava sua existência. Isso confundia Doroty, transparência da menina aturdoava alguém treinado para encontrar segredos escondidos ou ocultados, como um pirata atordoado ao receber um tesouro sem ter que desenterra-lo.
- Bom, continuando... Mesmo depois que meu maxilar deslocou eles continuaram enfiando seus membros em minha boca, acho que foi nesse momento que machucaram tanto minha garganta, por que sem o maxilar...
- Eu entendi. - Atalhou a explicação
- Entendeu, né. Olha, se a senhora poder dar um recado a Dra Carter, avisa pra ela que ela é uma boa média, que eu não tenho nada contra ela, eu só não falava muito em nossos encontros porque minha garganta doía muito.
- Eu darei o recado. Os dois recados.
A menina sorriu um sorriso sincero, satisfeito, entretanto marcado.
- Eu quase vomitei várias vezes, o gosto deles, o cheiro deles misturado som o sague da minha garganta era horrível. - Fez uma pequena pausa - Eu não ouvi o nome de todos, desculpe. Realmente só lembro do Chad, do Broock e do Marchal.
- Você lembra do rosto deles?
- Nitidamente.
Dority respeitou a pausa do momento até que a menina rompeu o silêncio.
- Você não quer saber o resto da história?
- Você quer contar?
- Você me prometeu que me deixaria ver o Philippe. - A médica assentiu - Então anote. - Retomou em um tom sucinto - Após me violarem, todos eles, algumas vezes sendo dois ao mesmo tempo, algumas vezes colocando a arma dentro de mim enquanto me penetravam por trás, isso quando não tinha um a minha boca, após me chutarem e me socarem. Após Marchal pegar o galho com o qual eu havia lhe golpeado e tentar enfiar em mim enquanto outros me seguravam suspensa no ar com as pernas abertas e o garoto, irritado por não conseguir enfiar o galho me acertar na barriga...- Ela fez uma pausa e acrescentou tomando um tom casual meio confuso - Nessa hora tudo girou. Eu sei que eu caí no chão. Devia estar me contorcendo. Me chutaram muito, acho que foi nesse momento que deslocaram meu maxilar. Enfim... - Gesticulando como se quisesse encerrar os questionamentos e voltar a narrativa - Após tudo isso, Chad quebrou uma garrafa e começou a rasgar seu nome na minha pele e os outros seguiram o líder. Eu pensava que estava dolorida demais para sentir dor, mas não estava. Uma espada, uma faca, uma lâmina ao menos tem um corte liso, mas uma garrafa quebrada... Eu pensava que ia morrer de tanta dor. Eu queria desmaiar. Mas nãaaao - E soltou aquele sorriso triste outra vez - eu tinha que ficar acordada - rindo. O sorriso esmureceu como um sol se pondo no horisonte, deixando apenas um olhar, um olhar que transbordava um sentimento que Doroty não conseguiu captar. A menina olhou para a médica e continuou como se estivesse se desculpando ante um questionamento que a médica já fosse lhe fazer, uma voz recuada, baixa.- Eu não sei quem enfiou a garrafa dentro de mim. Não sei qual deles. Só sei que eles empurraram tantas vezes, com tanta violência, com tanta força, que a garrafa se estilhaçou. - A voz da menina fez os olhos de Doroty lacrimejarem, ela tinha o tom de uma criança, um desolamento comformado que apertava o coração -
Eu descobrir que é impossível alguem morrer de dor. - Soltou tentando esboçar um sorriso - Caso contrário, eu teria morrido alí mesmo.  Mas eu cheguei morta ao hospital mesmo, então eu já não sei...
- Evelyn - A menina interrompeu
- Eu estou terminando... - Respirou fundo se recompondo. Arrumou sua postura e completou em um tom mais casual - Depois eles me enterraram. De modo que eu vi a terra sendo jogada em mim e tudo mais. E foi isso.
- Se você pudesse resumir em um sentimento essa noite
- Não é possível. Teriam que ser vários. Quatro no mínimo
- E quais seriam?
- "Preocupação", na hora que eu vi Philippe cercado. "Alivio" quando ele conseguiu fugir. "Desespero" na hora em que eles começaram a me rasgar, mas esse não foi o mais forte nem o mais importante.
- E qual seria o mais forte?
- Solidão
A palavra saiu firme como o tiro de um arqueiro. Direto, preciso e convicto. Esse era o sentimento que Doroty via palpável nos olhos da menina. Algo que comovia até o mais duro dos corações.
- Você tem medo de que se ficar sozinha algo vá lhe acontecer?
- Não estou preocupara com meu corpo, doutora, uma coisa que eu aprendi é que uma surra doi, mas passa. Uma machucado no corpo é facilmente curável. Mas a mente, a alma... Minha alma não foi machucada naquela noite, eu consegui cumprir o que ela me pediu, Philippe está bem. Mas naquele momento, doutora, sangrando, embaixo da terra, sentindo dores que a senhora nunca vai imaginar, eu parei para pensar na minha vida e me senti, como eu espero que nunca ninguem se sinta. 
- Então é assim que você se sente em relação ao mundo?
Evelyn deu um sorriso
- Não, doutora, o que eu sinto, o que eu sei, é que a vida já derruba a gente sozinha. A vida em sí é cruel, ela tem espinhos, mas porque eu vou me apegar a dor que ele me causam quando me perfuram os dedos, se eu posso me concentrar em tentar sentir o cheiro da rosa?

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