Saque

Meados do final de Junho
Evelyn, 10 anos, Gawaine 12.


- Eu cheguei primeiro! Eu cheguei primeiro! – Cantarolava Evelyn enquanto trotava com o cavalo na entrada de Pentref Celf, uma uma vila de ourives e artesãos. Gawaine pereceu não se importar com a glória da garota e passou por ela acelerado. - Eeeeeei!!! - Agitando o cavalo para segui-lo.
- A aposta é para ver quem chega primeiro a casa de Brayan, não às portas da cidade. - Gritou em resposta
- Você trapaceou!

     Brayan seguia atrás dos dois garotos, em um ritmo mais medido, sem a agitação da juventude. Não conseguiu conter o riso ao ver os dois cavalos agitados com a discussão de seus donos à porta de sua casa. Os animais relinchavam e erguiam as patas enquanto Gawaine e Evelyn discutiam o vencedor de uma competição que ele não notara muito bem quando começou. Era realmente raro ver aquele tipo de relacionamento. Nunca vira uma amizade entre um homem e uma mulher, mesmo que jovens.

     O cavalo da menina pareceu se assustar com alguma coisa e empinou, quase jogando a garota no chão. Evelyn abraçou o pescoço do animal enquanto enquanto Gawaine afastava seu cavalo o mais rápido que pudia e bradava:
- As rédeas Eve! Acalma ele mas não solta as rédias!
     Brayan acelerou o galope de seu cavalo, mas quando chegou próximo a casa, Orfeu já estava calmo com Evelyn afagando o pescoço do animal. A menina estava com a face esfogueada e com os olhos ainda lacrimosos do susto.
- Tudo bem, você ganhou. - Soltou Gawaine displicente de modo que arrancou um sorriso da menina.
Brayan desmontou de seu cavalo ainda nervoso
- Chega de apostas por hoje, vocês dois! Venha, pequenina, desça. - Pegando Evelyn pela cintura para ajudá-la a descer mais rápido do cavalo. - Deveria montar um cavalo menor, menos selvagem, mais adequado para uma dama de sua estatura.
~><~
- Eu acho que ele ficou bravo – Sussurrou Evelyn de modo que só Gawaine escutasse
O garoto respondeu com um sorriso maroto enquanto mantinha os olhos no irmão.
- Você 'só' acha?
Dessa vez foi Evelyn quem riu.
~><~

     Brayan exibiu a harpa com o orgulho de um pai satisfeito, era um dos melhores artesãos da vila e aquele instrumento lhe fazia merecedor do título. A harpa era grande, com folhas escupidas entrelaçando na madeira, a mais bonita que Evelyn já vira.
- Pensei que Ilien tivesse lhe encomendado uma lira. - Soltou a garota analisando o instrumento
- Este presente é para você. Pequena fada, um presente por você ter “celebrado” meu casamento com Lia.
     Evelyn pulou de alegria em meio risos e gritos. Tocou algumas notas rápidas interrompidas pela euforia. Uma euforia contagiante que arrancava gargalhadas pela casa. Brayan aproveitou para acrescentar alguns detalhes esculpindo traçados no arco da menina enquanto Gawaine discutia algo sobre não ter ganhado um presente.  Lia encerrou qualquer discussão quando chegou com bolo e leite quente com mel para as duas crianças. Afagou os cabelos amarronzados de seu marido enquanto lhe entregava uma caneca de cerveja, e pôs-se a contar histórias das tribos perdidas e dos reinos das fadas.

Evelyn sempre achara Lia encantadora, com seus cabelos negros e sua pele mais corada, como a pele do povo das tribos do sul. A mulher tecia elogio aos dedilhados de Gawaine em seu alaude que mesmo não tendo a prática de seu irmão Ilien, já mostrava talento para a arte.

O almoço foi alegre e despretensioso, não carregava as regras da corte, com todos os seus modos. A comida era farta e gostosa. Além de contar com o triunfo de uma galinha que Gawaine e Evelyn suaram para conseguir capturar, artimanha essa que rendeu muitas bicadas em ambos.

Lia tratou a galinha enquanto Elenyn observava com atenção, se esforçando para aprender cada corte com afinco enquanto Brayan e Gawaine praguejavam de fome. Lia lhes direcionou ameaças para caso ambos não calassem a boca e aparentemente a faca suja de sangue em sua mão lhe dava um tom ameaçador o suficiente para fazer com que os dois obedecessem.

Assim, as mãos foram sujas de gordura, graças e brincadeiras foram lançadas, sendo que algumas delas fugiam a compreensão dos mais moços. Brayan entregou a Gawaine o estojo com a lira que Ilien lhe encomendara e passou ao rapaz uma lista de cuidados para se ter com o instrumento. Depois amarrou os dois cavalos dos garotos a uma carrola onde prendeu a harpa, despediu-se de Lia, e com Gawaine e Evelyn a bordo, ele tomou a estrada. Entretanto, antes mesmo de se chegar próximo à saída da cidade o vento trouxe consigo o cheiro de queimado, os gritos e a aura de morte.

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Homens corriam pelas ruas com cavalos e carroças e ateavam fogo nas casas. Outros desferiam golpes de espada contra qualquer um que cruzasse seu caminho. Pegavam o que queriam, matavam os homens e violentavam as mulheres, na rua mesmo, sobre o que quer que elas estivessem encostadas. Rapidamente o cenário da vila se transformou em caos. Brayan passou as rédias da carroça a Gawaine com uma ordem firme de: "Saia da vila!"e pulou. Não podia deixar Lia para trás.

     Gawaine agitou o açoite e os cavalos correram, arrastaram a carroça com violência. Evelyn se segurava tentando não tombar. Entretanto, o desespero do garoto desenfreou os cavalos que acabaram chocando a carroça em uma das construções e virou logo depois. Gawaine não conseguiu se segurar e foi arremessado, soltando um grito agonizante de dor no impacto contra o chão de pedras. O barulho chamou a atenção de um dos invasores que avançou no garoto.

     Sem pensar, Evelyn pulou da carroça, tomou o arco e começou a disparar no homem. Somente duas, das várias flechas disparadas acertaram o alvo. Estas, pela pouca força da menina, pareceram arranhar o homem, apenas o incomodando o suficiente para fazê-lo se virar indignado e notar a garota. Gawaine aproveitou a distração para tomar-lhe uma faca que trazia junto a cintura e fincá-la violentamente entre as costelas do homem. Mas o couro grosso que o protegia pouco cedeu. O homem tornou ao garoto e começou a socá-lo a enquanto o menino se defendia piamente e usava toda a sua força para empurrar lâmina.

Desesperada, Evelyn correu em direção aos dois e subindo nas costas do homem, enfiou uma flecha em sua garganta. A flecha não penetrou, e escorregou pelo pescoço fazendo uma fina linha de sangue. O homem tirou Evelyn de suas costas e a arremessou no chão, enquanto Gawaine usou a faca para rasgar-lhe a garganta. O homem ainda mirou alguns golpes no garoto, mas não tardou até que seu corpo, esvaindo-se em sangue, tombasse sem vida.

Com adrenalina suficiente para fazê-lo ignorar a dor dos socos que recebera, Gawaine correu até onde Evelyn tentava se erguer sem muito sucesso.
- Você está bem? - Ajudando-a a se levantar
- Não consigo respirar direito, minha cabeça dói. 
- Vem. Você precisa se concentrar agora, está bem?! - Passando o braço dela sobre seu ombro para dar-lhe apoio
- Eu não consegui acertar ele. - Soltou com uma voz trêmula. - Ele ia matar você...
- Você está errada, você foi minha heroína. Eu não teria conseguido sem você. Você foi muito forte e eu preciso que continue assim. Nós vamos conseguir sair daqui, mas precisamos fazer isso juntos. Tudo bem?
A menina apenas assentiu.
- Você já consegue andar?
- Sim.
- Eu preciso que você confie em mim.
- Eu confio. - Respondeu convicta. Gawaine a olhou por um momento, usando a confiança que Evelyn para convencer a si mesmo que era capaz. Respirou fundo transparecendo o máximo de tranquilidade e segurança para a garota, olhou em volta procurando os cavalos mas estes fugiram tão logo conseguiram soltar-se da carroça. Procurou outras alternativas, mas logo percebeu que ficar parados onde estavam era o menos seguro a se fazer.
- Vamos!

Os dois se esgueiraram por entre algumas casas, correndo vez ou outra, quando alguém notava sua presença. Gawaine parava apenas para procurar qualquer arma útil nos corpos mortos no caminho. Encontrou uma besta com alguns poucos virotes e uma espada que teve que descartar por ser muito pesada. Estava procurando algo mais leve quando escutou os gritos de uma mulher pedindo ajuda misturada a risos e vozes de homens, a uma viela de distância. Seus olhos procuraram Evelyn instintivamente e se desesperaram por não encontrá-la. Não demorou muito até notar o cabelo vermelho vivo se esgueirando em direção à viela.
- O que você pensa que está fazendo?! - Sussurrou a segurando pelo braço.
- Precisamos ajudá-la...
A essa altura os gritos da mulher se tornaram mais desesperados. Evelyn apertou o braço de Gawaine contendo as lágrimas.
- Vamos logo embora daqui. - A arrastando na direção contrária.
- Mas...
- Não podemos fazer nada Eve, se nos notarem, vão machucar você também. - Evelyn o fitava confusa, os gritos da mulher lhe enchia os ouvidos, a ira diante da sua impotência era imsuportável. Queria ajudar a mulher, mas não podia por a segurança de Evelyn em risco. - Vamos!

Já estavam a poucas quadras da casa de Brayan quando Gawaine encontrou uma espada curta. Mas, pouco pode regojizar-se com a sorte, teve de correr com Evelyn por algumas casas enquanto dois dos saqueadores pareciam se divertir com a brincadeira de pegar as duas crianças. Evelyn entrou um uma das casas e Gawaine ficou a porta para garantir que nenhum dos dois passariam.

Evelyn estava suada, suja de sangue e terra. Entrou na casa ofegante, em pânico. Entretanto seu desespero só aumentou quando notou que não estava sozinha no lugar. Ouviu um gemido e um baque de um corpo sendo jogado no chão. O corpo era de uma jovem, seus cabelos loiros ainda meio presos em um penteado que fora brutalmente desfeito, ela olhou para Evelyn, seus olhos diziam que havia vida em seu corpo, mas não em sua alma. Evelyn ficou atônita sob o olhar da jovem, e não conseguiu correr ou gritar quando o homem que soltou a garota avançou com um sorriso doentio e começou a esfregava seus lábios e sua barba arranhando o rosto da menina.

Ele a derrubou no chão e a arrastou pelas pernas. Rasgando as costas do vestido pelo chão e fazendo a saia levantar. Evelyn se debatia e gritava mas sua pouca força era imponente diante do homem. Então ele se deitou sobre ela, lambeu o rosto da menina e começou começou a rasgar o vestido, o cheiro de sangue, suor e bebida, além o odor fétido do homem lhe deixava enjoada. Já estava sentindo o corpo quente do homem forçando-se contra o seu quando o ouviu dar um urro de dor. Ele se levantou com a mão no ombro tentando arrancar o dardo. Gawaine deu um chute fazendo-o tombar ao lado da garota com seu membro ainda rijo e exposto. Evelyn se encolheu tentando se cobrir desesperada.Gawaine deu mais dois tiros com a besta no peito do homem. Depois pegou a espada e a enterrou na garganta do homem. A lâmina escorregou cortando metade do pescoço, em seguida a enfiou frenéticas vezes na pélvis do homem. O ódio transbordava salgado pelos seus olhos enquanto sua mente formulava as mais diversas maldições. 

Seguro de que o homem estava morte, Gawaine soltou a espada e se voltou a Evelyn, a embalando num abraço e ela o agarrou como quem se agarra a vida.
- Shiiiiiiu, está tudo bem agora. Eu estou aqui. Shiiii... Calma... Calma...

Evelyn quase tropeçou nos corpos dos dois homens que estavam na porta quando saíram do local em direção a casa de Brayan na qual conseguiram chegar sem muitos contratempos, a casa estava vazia, mas, depois de uma pequena vasculha, ouviram um barulho surdo de madeira e Lia surgiu.
- O que vocês estão fazendo aqui? Pelos deuses, o que fizeram com ela?
- Que bom que está viva. - Soltou Gawaine ainda abraçado com Evelyn. - Onde está meu irmão?
Um barulho no lado de fora chamou a atenção de todos. Lia pegou as duas crianças pelo braços e começou a empurrá-los até um cômodo. Lá chegando, Gawaine notou um pequeno espaçamento entre as duas paredes. Então era alí que Lia estava escondida.
- É pequeno, mas acredito que caibam vocês dois.
- O que é isso?
- Essa é uma vila de ourives e artesãos, normalmente somos bem seguros mas as vezes somos saqueados, é aqui que escondemos as peças mais caras, ou nos escondemos quando não conseguimos fugir.
Agora as vozes pareciam vir de dentro da casa.
- Rápido!
- Não, entre você e a eve.
- Não vai caber nós duas Gawaine. Entre e a proteja – E deu um beijo na testa do garoto – Seja um bom garoto.

Evelyn começou a chorar, mas Gawaine lhe tampou a boca. Lia arrumou as toras de madeira de modo que ficaram apenas frestas para passar o ar e começou a rezar. Algum tempo depois, cerca de cinco homens entraram no cômodo e jogaram Brayan no chão.
- Vamos homem. Lute! - Instigou um deles – Você tem uma mulher muito bonita para defender.

Gawaine via as cenas pelas frestas na madeira com uma aflição crescente em seu peito. Era possível ver a sombra de Lia a sua frente. Ela deu um sorriso conformado a Brayan que se levantou e empunhou a espada. Os homens riam como uma corte assistindo um macaco que sabe alguns truques. Talvez fosse pretensão ou mera esperança do garoto naquele momento. Não que ele realmente acreditasse que Brayan fosse capaz de lutar em igual com aqueles homens. Brayan era um artesão, seu conhecimento de espada se limitava ao obrigatório que todo homem que possua um pouco mais de condições possuía. Os ladrões eram acostumados a matar, eles golpeavam vez ou outra Bryan em direções diferentes, enquanto o artesão girava tolamente em direção ao golpe e tentava com toda a sua energia ferir os agressores. Quando a apresentação, o ato de humilhação, perdeu a graça eles golpearam Brayan três vezes e ele caiu inerte no chão. Então, levantaram seu corpo por seus cabelos e com um golpe firme, deceparam-lhe a cabeça.

As lágrimas corriam silenciosas pelo rosto das duas crianças. Gawaine sentiu um embrulho no estômago, suas pernas perderam as forças. Então foi a vez de Lia lutar bravamente, sempre sem sair da frente do esconderijo. Então um dos homens atravessou seu corpo com uma espada . A lâmina transpassou a madeira passando vão até fincar-se na parede real, fazendo um fino corte na bochecha de Evelyn e no ombro de Gawaine. Então o homem, mesmo com ela morta e suspensa pela espada fincada, lhe abusou do corpo.

Depois dos gemidos repugnante e das vozes veio o silêncio. Gawaine se permitiu um minuto para tentar fazer passar o enjoo, entretanto, seu olfato lhe atentou para outro cheiro, o cheiro de queimado. A casa estava incendiando, a fumaça começava a entrar pelas frestas da madeira e sufocar as duas crianças. Evelyn chorava assustada, Gawaine tentava empurrar a madeira sem muito sucesso. A espada atravessando o pequeno espaço limitava o movimento. O choro e a tosse da garota lhe deixava ainda mais nervoso. Tentou virar-se de lado e empurrar com o ombro. Mas, a única coisa que conseguiu foram cortes no braço.
− Evelyn! Pare de chorar e ajude! - Ordenou nervoso
Tá bom... - Engolindo o choro
A menina empurrou, mas suas mãos nervosas e trêmulas não fizeram muita diferença. Escorregou
o joelho para cima dobrando a perna e começou a empurrar. O rapaz imitou gesto e apoiando-se na
parede a suas costas, começou a empurrar com o joelho e os braços também. A taboas da madeira
começaram a ceder lentamente. Evelyn que tinha o corpo mais esguio conseguiu se virar de costas
para empurra a parede com as penas forçando com as costas, as tábuas de madeira. Artifício que lhe custou alguns fios de cabelo e um outro corte seguro na bochecha. As labaredas já se faziam visíveis tomando o comodo quando a madeira cedeu abrupta, fazendo com que as duas crianças caíssem esmagando o copo de Lia.

Uma poça de sangue se formou embaixo da madeira. Evelyn começou a chorar novamente. Gawaine tentava encontrar alguma saída segura enquanto a menina engatinhou ainda em prantos e, se metendo no fogo conseguiu pegar a cabeça de Brayan. Sentou-se ao lado do corpo do amigo aos prantos abraçada com a cabeça. Seu vestido rasgado agora tingia-se de um vermelho triste A menina se recompôs e levantou em um movimento calmo e medido. Com muito esforço conseguiu virar o corpo de Lia, embora a espada fincada lhe deixasse ainda tombando. Depois começou a arrastar o corpo de Bryan para seu lado. O sangue ajudava o corpo a escorregar facilitando o trabalho da menina, mas tingindo o quarto com um rastro rubro. Enquanto Gawaine procurava uma saida, Evelyn arrumava os dois corpos deitados um ao lado do outro, colocou a cabeça de Brayan sobre seu pescoço e sua mão sobre a mão de Lia. Que 'em morte' se seguisse o ordenado de 'em vida'. Sempre juntos, sempre lado a lado.
- Evelyn, precisamos ir! - Ao ver os dois lado a lado, Gawaine teve que conter o choro. Brayan e Lia sempre foram um exemplo de como uma união tinha que ser, a união entre o deus e a deusa, entre o sol e a terra. Evelyn fez uma oração que Gawaine seguiu dividindo a atenção entre as palavras e as chamas que aumentavam.

A noite já estava caindo. Os focos dos incêndios faziam contraste com o negrume da orbe celeste. Corvos sobrevoavam a vila como convidados de festa. A lua se erguia soberana banhando a tuco com sua luz prateada.

Feridos e queimados, Gawaine e Evelyn conseguiram fugir cobertos pelo manto da noite e se embrenharam na floresta. Andaram sem muito rumo, sem uma direção exata. A noite estava fria e a floresta era o único lugar que parecia seguro. Tanto Evelyn quanto Gawaine seguiam calados, ele mais a frente, procurava um lugar decente para acender uma fogueira, ela cobria-se com a blusa que ele tirara e lhe dera. A fogueira foi acesa em um buraco a uma distância considerada segura. A fome e a sede começavam a incomodar, e os machucados começavam a se fazer ainda mais evidentes. Mas não era isso que realmente vigorava na mente dos dois jovens, não eram essas as preocupações.

Não foi por fome que Gawaine levantou-se sob o pretexto:
- Eu vou caçar algo para a gente comer.
- Não... - Soltou Evelyn com uma voz aflita segurando o braço do rapaz, uma voz tão baixa que parecia uma súplica - Por favor, não me deixe sozinha agora.
Ele se voltou a ela e lhe fez um carinho no rosto.
- Está tudo bem, agora. Nada pode lhe fazer mal. Já passou...- Com uma voz gentil
Evelyn encostou a cabeça em seu peito e começou a chorar. Gawaine lhe abraçou
- Tente dormir. O sol logo vai nascer. Nós vamos poder estar em casa. Então estaremos são e salvos.
- Eu não quero dormir, eu estou com medo... E se... E se você não estiver mais aqui quando eu acordar?
- Eu vou estar...- E deu um beijo na testa da menina – Eu prometo que eu vou estar. Sempre.
Evelyn chorou até que dormiu de cansaço. Gawaine permaneceu abraçado com ela por toda a noite. Tentou dormir, mas as lágrimas invadiram seus olhos e ele chorou. Ele chorou tudo o que guardara até então.
- Shiiiiiiiiu... - Ele ouviu na voz embargada de Evelyn, acordada pelos soluços - Vai ficar tudo bem... lembra do que me disse? Que quando o sol nascesse nós estaríamos bem? - ainda com a cabeça deitada em seu obro - O sol sempre vai nascer.
- É uma verdade.
Evelyn se sentou para poder olhar nos olhos do rapaz, e Gawaine repetiu o gesto.
- Você confia em mim? 
- Confio - respondeu com um sorriso triste
- Então eu preciso que você segure a minha mão.
- E seja forte? - Ele interrompeu enquanto enlaçava a mão na da menina.
- Nãaao - Soltou com a agonia costumeira que arrancou um sorriso sincero do garoto – Pelo céu que nos cobre, pela floresta que nos cerca, pelo fogo que nos aquece, eu lhe dou minha palavra, você não precisa ter medo, pois eu nunca vou soltá-la.
- Não pelo sangue, pois este pode ser derramado, não pelo sol pois ele se põe no horizonte ou pela lua que do céu se oculta. Mas pelos deuses do céu e da terra, eu também lhe dou minha palavra, você não precisa ter medo, pois eu nunca irei soltá-la.
- Pronto! Agora, você está mais tranquilo, está na hora de dormir que você precisa. Deita! - Puxando a cabeça do rapaz para seu colo de uma forma enérgica.
- Ai!
- Durma!
- Eu não consigo dormir sob pressão.
- Consegue sim.
Gwaine apenas sorriu e se aninhou no colo da garota, enquanto Evelyn lhe fazia carinho no cabelo e cantarolava alguma canção que escutava no templo.


Eu lembro das lágrimas escorrendo pelo seu rosto
Quando eu disse que nunca deixaria você ir
Quando todas aquelas sombras quase mataram sua luz
Eu lembro de você dizer não me deixe aqui sozinho
Mas tudo isso está morto e enterrado e hoje à noite passou.

Apenas feche seus olhos
O sol está se pondo
Você vai ficar bem
Ninguém pode feri-lo agora
Venha luz da manhã
Você e eu vamos estar são e salvos

Não se atreva a olhar pela janela
Querido, tudo está pegando fogo
A guerra à nossa porta continua
Segure-se a esta canção de ninar mesmo quando a música se for, se for.

(Safe & Sound - Taylor Swift)

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